Melhores do Ano 2020
Os 25 melhores, outros 25 destaques e mais 10 bombas deste ano que se recusa a terminar
Que bosta de ano.
Pronto, tiramos da frente a exclamação óbvia. Não que ajude muito no tema maior desta publicação: é óbvio que o cinema sofreu todos os abalos possíveis de 2020, é óbvio que as coisas já não são mais as mesmas desde março, é óbvio que vai demorar pra voltar a ter aquela mesma sensação de antes em ir a uma sala de projeção e sentir o conforto da intimidade coletiva com um filme, é óbvio que a experiência muda ao passar quase um ano vendo filmes sozinho na TV.
É óbvio. E ao mesmo tempo parece não ser tão óbvio assim.
Divagações existenciais e cinéfilas a parte (e tentando ser o mais direto possível aqui), confesso ver como impossível fazer um Melhores do Ano em 2020 pelas regras que nortearam os trabalhos dos últimos sete anos. Falar em circuito brasileiro de exibição este ano é uma piada por si só: nunca estivemos tão isolados em nossas próprias experiências com a dita sétima arte, além da própria realidade da produção cinematográfica estar para lá de desconectada do nosso status atual graças às mudanças drásticas de comportamento da pandemia. Enquanto damos graças que só em 2021 seremos obrigados a assistir trocentos filmes pandêmicos, o fato é que em 2020 estas duas questões nortearam toda a nossa relação com cinema, seja em questão de vantagem ou desvantagem — e acredito que isto se mostre bastante presente em minhas listas, pelo menos.
No lado prático, porém, estas constatações todas me levam a expandir pela primeira vez o dito “escopo” da “curadoria” e ir além dos conformes do que é cinema e o que é streaming (amém, pelo menos por enquanto superamos esta conversa). É algo que ajuda a tornar os critérios bem mais simples, aliás:
Critérios:
- Para estar no ranking basta apenas ser um filme de 2019 ou 2020 que vi no curso dos últimos doze meses;
- São 25 filmes destacados na seção de Melhores, outros 25 no “Destaques” (que este ano é o resto do top 50) e mais 10 no Piores.
Enfim, comecemos os trabalhos.
Piores do Ano
Ou “Uau, por que vi isso mesmo?”. O décimo lugar eu confesso que me deu pena de incluir, o que significa que pelo menos vi bem menos bobagem este ano.
- Jojo Rabbit, de Taika Waititi
- 1917, de Sam Mendes
- A Forca Ato II, de Travis Cluff e Chris Lofing
- A Festa de Formatura, de Ryan Murphy
- O Escândalo, de Jay Roach
- Stardust, de Gabriel Range
- Mulan, de Niki Caro
- Natal Sangrento, de Sophia Takal
- Dançarina Imperfeita, de Laura Terruso
- A Última Coisa que Ele Queria, de Dee Rees
Destaques do Ano
Ou os outros 25 filmes que poderiam ter chegado na lista final. A lista começa a ficar boa mesmo a partir da 42° posição, mas o que vem antes também me atrai de um jeito ou de outro.
50. O Que Ficou Pra Trás, de Remi Weekes
49. A Caminho da Lua, de Glen Keane
48. O Homem Invisível, de Leigh Whannell
47. Resgate, de Sam Hargrave
46. Dois Irmãos, de Dan Scanlon
45. Mamãe, Mamãe, Mamãe, de Sol Berruezo Pichon-Rivière
44. Mank, de David Fincher
43. Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars, de David Dobkin
42. Meu Rembrandt, de Oeke Hoogendijk
41. Notturno, de Gianfranco Rosi
40. Sportin’ Life, de Abel Ferrara
39. Spring Blossom, de Suzanne Lindon
38. Você Nem Imagina, de Alice Wu
37. Run, de Aneesh Chaganty
36. Os Miseráveis, de Ladj Ly
35. Afunde o Navio, de Bridget Savage Cole e Danielle Krudy
34. For Sama, de Waad Al-Kateab e Edward Watts
33. Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig
32. Feels Good Man, de Arthur Jones
31. A Prima Sofia, de Rebecca Zlotowski
30. Lingua Franca, de Isabel Sandoval
29. Clemency, de Chinonye Chukwu
28. Isso Não É Um Enterro, É Uma Ressurreição, de Lemohang Jeremiah Mosese
27. Greyhound: Na Mira do Inimigo, de Aaron Schneider
26. Destacamento Blood, de Spike Lee
Sem maior enrolação, os melhores de 2020:
25. Nariz Sangrando, Bolsos Vazios, de Bill Ross IV e Turner Ross
É verdade que o experimento da vez dos irmãos Ross se beneficia muito do isolamento, da quebra da confraternização e outras questões do tipo, mas acho um pouco criminoso dizer que o filme se resume a isso. A “última noite” do Roaring Twenties é destes registros artificiais que ocultam algumas verdades bem delicadas, muitas relacionadas ao coletivo e a forma como nossas relações ajudam a nos sustentar em momentos de dor. É a obra pra lá de errática, mas cheia dos momentos maravilhosos, em especial o final doloroso.
Agora à piada óbvia: num ano de ressaca como 2020, Nariz Sangrando, Bolsos Vazios é o tipo de porre que ajuda a remendar por um momento as dores.
24. First Cow, de Kelly Reichardt
Reichardt já investigou antes o gênero do faroeste com O Atalho, mas First Cow carrega uma força particular na maneira como destrincha parte da mitologia individualista presente na gênese do tal sonho americano que é crucial a todas essas histórias. É uma história de amor envolta em um mundo onde parece inexistir qualquer coisa além das preocupações pessoais, ditadas sobretudo por formas bastante iniciais de capitalismo e contadas em uma narrativa de slow burn bem eficiente. Nós sabemos onde a história termina desde o começo, mas seu desenrolar no filme traz todas as complexidades do cinema da diretora envoltas em um formato que eu acredito ainda não terem sido desembaralhados.
23. As Mortes de Dick Johnson, de Kirsten Johnson
O contraponto deste novo filme de Johnson com sua estreia na direção, Cameraperson, é dos mais interessantes: se lá era uma questão de desmistificar o assombro de imagens dispersas recolhidas dos trabalhos de outros, aqui é sobre reconstruir uma visão interna projetada em seu pai. O timing da pandemia foi assustador de perfeito (nenhum filme deve ter lavado tanto a alma do público quanto este), mas As Mortes de Dick Johnson é um filme sobre luto e despedidas bem mais potente que o “momento” reforça. O final no ensaio da missa é maravilhoso.
Tá na Netflix.
22. O Caso Richard Jewell, de Clint Eastwood
Eu sigo fascinado pelo esforço final do Clint em desconstruir o próprio cinema, ainda mais quando auxiliada por uma atuação tão poderosa quanto a do Paul Walter Hauser aqui. Depois de três filmes focados na reinterpretação do heroi americano e outro na expiação dos próprios pecados e no desfazimento da figura, Richard Jewell soa mesmo como um passo natural na direção da compreensão desta percepção externa ao heroísmo e uma mitologia em suspenso nos EUA. É um filme sobre abuso de poder que também trabalha os arredores destas relações, e neste ponto faz todo sentido que seja uma obra tão claustrofóbica e focada no corpo do ator principal.
Tá no HBO Go.
21. Um Lindo Dia Na Vizinhança, de Marielle Heller
É esquisito como este filme ainda habita minha memória, mesmo depois de quase um ano tendo se passado desde que saí da sessão. Heller ora ou outra ainda recai em umas escolhas um pouco duvidosas, mas ao contrário do superestimado Poderia Me Perdoar? o Um Lindo Dia na Vizinhança consegue ser bastante feliz no slow burn por trás deste jogo duplo entre cinismo e inocência que permeia suas relações de pai e filho. A atuação do Hanks é potente demais, e por mais que a cena do minuto de silêncio chame toda a atenção é aquele último momento no piano que continua a frequentar meus pensamentos.
Tá no HBO Go.
20. Summertime, de Carlos López Estrada
Falando em inocência, desde a Mostra sigo um pouco surpreso com a reprovação de muitos a este novo trabalho do Estrada. Ele pode ser bem mais artificial que o Ponto Cego, é verdade, mas acho que está longe da inocência insuportável que muitos viram aqui. Para além dos “statements” e o clima evidente de sarau, Summertime é bem habilidoso na hora de escapar da ideia de “We Are The World gen Z” para fazer o registro de uma geração na via do amadurecimento, autoconsciente do desfazimento da miragem de serem a “promessa”. As letras dão o tom deste reconhecimento, mas deve ter sido as imagens da Los Angeles em pleno processo de erosão e gentrificação que me pegaram.
19. Soul, de Pete Docter
Inevitável que Soul fosse o filme prestígio deste ano da Pixar (pobre Dois Irmãos), mas não esperava que o Pete Docter assumisse com tanto despudor o bastão de “último homem” do legado do estúdio, disposto a mostrar o caminho das próximas gerações. Entrei esperando um repeteco de Divertida Mente e, bem, ele veio de certa forma, mas sua elementaridade é sólida o suficiente para deslocar qualquer um do eixo — até porque é de longe o filme mais engraçado da produtora e bem disposto a ser mais que a mensagem inspiradora, em alguns momentos ele é quase uma abstração norteada por sentimentos a serem despertados.
Tá no Disney+. Escrevi sobre o filme no B9.
18. O Som do Silêncio, de Darius Marder
Eu sou cruel se disser que este filme é bem mais eficiente que todos os últimos trabalhos do Derek Cianfrance, né? Para além do deslumbramento imediato com o lado técnico da coisa (provavelmente filmes que despertarão revolta por não estar no Oscar de som ou coisa do tipo), Marder é abençoado por uma atuação central sólida de Riz Ahmed e secundárias fortes de Paul Raci, Olivia Cooke e Mathieu Amalric. O melhor, porém, é que ele sabe bem como aproveitá-las para dentro de sua narrativa, que parte de um tema de equilíbrio interno para atingir um cerimonialismo de transição muito delicado.
Tá no Amazon Prime Video.
17. Siberia, de Abel Ferrara
Dos trabalhos introvertidos e existenciais recentes do Ferrara que assisti deve ser meu favorito com alguma tranquilidade. A comparação jocosa que muitos vem fazendo aos filmes do Lars Von Trier faz sentido porque o Siberia chega a um mesmo ponto de questionamento pessoal de alta vulnerabilidade, mas se sai melhor porque não se perde no exercício de sadismo de todas as partes: é bem o lance de enxergar a culpa interior e se deixar perder por ela, mas a forma apocalíptica como Ferrara extravasa isso acaba por ser condizente com o clima dos últimos anos (sim, antes da pandemia).
16. Cabeça de Nêgo, de Déo Cardoso
A estreia de Déo Cardoso é uma bomba de dinamite como tem de ser, mas também traz um olhar certeiro sob toda a onda de ocupações estudantis que rolam no país desde 2016. A estruturação em torno do tema do racismo pode soar para alguns como orquestrada demais, mas ela faz parte da elegância da narrativa, que por mais que faça por merecer as comparações com Spike Lee não hesita em trilhar caminhos próprios. Por mais cenas como o do estudante expulso descobrindo que o protesto é também sobre ele.
15. A Cor que Caiu do Espaço, de Richard Stanley
Dizer se ou não é a melhor adaptação de H.P. Lovecraft é algo que deixo aos leitores do autor, mas da minha parte fico feliz de ver uma nova (e crítica) visão sobre essas histórias tão malditas e cruciais ao desenvolvimento do horror contemporâneo. E sim, sempre bom ver alguém que sabe empregar os surtos da atuação do Nicolas Cage.
Tem no Telecine Play.
14. Dias, de Tsai Ming-Liang
É o meu primeiro Tsai então nem me atrevo a fazer muitos comentários, mas se vale de algo: que cena a da massagem. Que cena.
13. Martin Eden, de Pietro Marcello
Martin Eden é destes filmes que de fato saltam aos olhos dado o grau de paradoxo envolvido. É tanto sobre a perspectiva pessoal do autor que se desencanta com o mundo quanto da perspectiva histórica de uma Itália incapaz de lidar com sua História fascista, e Marcello é muito hábil na forma como contrapõe, mistura e trata dessas duas facetas sem se perder em nenhuma delas. O diretor também trabalha muito bem a evolução da performance de Luca Marinelli, outra destas atuações que me marcaram em 2020.
12. Sertânia, de Geraldo Sarno
Enquanto os gringos descobriram Bacurau, a gente este ano teve a oportunidade de ouro de testemunhar esse revisionismo do cangaço de Sarno. Outro desses filmes que reconheço a incapacidade de adicionar qualquer coisa sobre, para além do deslumbre sobre a autoconsciência do diretor sobre o retorno bem tardio a essas histórias e o que fica para as próximas gerações.
11. O Preço da Verdade, de Todd Haynes
Num mundo de corporações, atestar a própria realidade é um terror e tanto. Que o Todd Haynes tire esta conclusão de um thriller ambiental é algo que me explode a cabeça, e quem diria que a fachada neon de um Benihana poderia ser tão assustador.
Tem no Amazon Prime Video. Escrevi sobre o filme no B9.
10. O Despertar de Fanny Lye, de Thomas Clay
Desconhecia o trabalho de Clay até este ano e confesso que foi uma deliciosa surpresa este novo filme do diretor, cuja retomada de uma certa estética tradicional de cinema de horror inglês é apenas a cereja de uma obra que trabalha com habilidade a questão de opressão ao feminino em dois fronts antagônicos. O Despertar de Fanny Lye é sim sobre ressuscitar um subgênero muito especifico, mas também é sobre reposicionar peças para revelar a crueldade das estruturas em movimento sem nunca se deixar levar pelo lado teórico da coisa. E depois de tantos trabalhos repetindo o papel de Tywin Lannister, é bom ver alguém trabalhando de um jeito diferente a postura paternalista do Charles Dance.
9. Undine, de Christian Petzold
Depois de promover um olhar crítico bastante frontal sobre o passado nazista recente da Alemanha, é decerto surpreendente ver o Petzold adotando um modo de operação mais subjetivo sem perder a potência com Undine. Não que o filme seja tão discreto assim em suas diversas palestras sobre o urbanismo de Berlim, mas o conto de sereia envolvido aqui é fascinante pelo seu uso e também pelos momentos que desperta, todos passando obviamente pelo tema da memória envolvido.
8. On the Rocks, de Sofia Coppola
Mais um injustiçado do ano, mas faz sentido dado que o propósito talvez envolva mesmo uma classificação apressada de “leviano”. Gosto de pensar que os melhores filmes da Coppola funcionam em duas camadas, e aqui o que se vê é um jogo de amenidades na superfície que esconde uma percepção bem terrível sobre as estruturas paternalistas em torno de instituições como a do casamento. Além disso, é o reverso ideal de Um Lugar Qualquer: além da trama se passar do outro lado do país, On the Rocks também inverte a perspectiva de pais e filhos ao tratar dos efeitos dos primeiros sobre os últimos, sem ocultar em nenhum momento as dores envolvidas.
Tem no Apple TV+.
7. Let Him Go, de Thomas Bezucha
Inesperado demais aqui o alcance narrativo de Bezucha, que canaliza o melhor do cinema compassado de Eastwood para revisitar justamente arquétipos do faroeste num cenário contemporâneo e dentro de uma história de dores maternais. Let Him Go é um drama de negociação emocional bem potente, ancorado por um elenco muito sólido (Lane, Costner e Manville estão todos ótimos) e com muita habilidade para brincar com a simbologia tradicional na hora de inverter suas relações. É todo um clímax nervoso para chegar ao trauma que importa, à despedida mais dolorosa, e acho que isso que faz o filme merecer o título.
6. Retrato de Uma Jovem em Chamas, de Céline Sciamma
Não há muito mais a ser dito aqui que já não tenha sido repetido um milhão de vezes pelos fãs. Sciamma de certa forma num auge no que se refere a trabalhar imagens e um tema tão abstrato como o amor, sua condução leva a cenas fortes e ela tem toda a paciência para tirar o máximo das situações que encena.
Tem no Telecine Play.
5. Bad Hair, de Justin Simien
Está aí um dos melhores exemplos do problema do algoritmo: em um 2020 dominado por séries como Lovecraft Country e Pequenos Incêndios por Toda a Parte, o que leva o novo filme de Justin Simien a passar tão batido assim? Até porque Bad Hair vai muito além dessas duas séries, aproveitando toda fonte de subgênero “baixo” para compor uma história de racismo sistêmico que revira fundo os anos 90 e a formação cultural — “Culture is dead” é fácil a fala óbvia mais gostosa de se ouvir no ano. Como no filme de Cara Gente Branca, Simien demonstra uma facilidade assustadora na hora de transitar entre registros sem perder o fio da meada, mas levanta a barra ao fazer um filme de monstro aterrorizante em meio a todas as discussões que levanta. Só me faz lamentar de novo que vamos perder um nome tão interessante para o mundinho das séries, ainda mais agora que é uma de Star Wars.
4. City Hall, de Frederick Wiseman
Para além do sentimento sofrido dos últimos meses de lembrar do status da máquina pública do próprio país ao ver um filme como esse, o City Hall do Wiseman consegue ser interessante tanto pelo registro ágil de uma administração municipal eficiente quanto da problematização dos limites sempre expansivos da mesma. É impressionante: dá pra ficar animado de ver os resultados de todas aquelas reuniões em curso (além dos prazeres pontuais, tipo a máquina de triturar lixo) quanto de entender a dor de cabeça eterna que será tocar uma cidade e atender todas as pessoas sem se deixar levar por soluções cruéis em sua facilidade. Quando Marty Walsh anuncia o percentual ridiculamente baixo de desemprego de Boston, a contradição interna de explodir de alegria com a eficiência de todas aquelas pessoas e sofrer com o que ainda precisa ser feito é brilhante.
3. Nunca Raramente Às vezes Sempre, de Eliza Hittman
O tema do aborto é uma peça para lá de importante de Nunca Raramente Às vezes Sempre, mas o filme não é apenas sobre a defesa da liberdade de escolha da mulher sobre o próprio corpo — e é justo isso que me atrai tanto ao novo filme de Eliza Hittman. Se Parece Amor e Ratos de Praia soaram como trabalhos acima de tudo teóricos, este terceiro longa da diretora consegue ir além ao não apenas deslocar o eixo da narrativa do registro de um tempo e local específico e pessoal, focando numa jornada burocrática que vai fundo no amadurecimento feminino dentro de um mundo masculino. A jornada de Autumn começa da necessidade de se livrar de um feto que só lhe traz dor, mas termina na constatação da importância da amizade com a prima Skylar — o que me leva a voltar de novo e de novo no momento acima.
Tem para locação e compra digital no Google Play e no Looke.
2. The Woman Who Ran, de Hong Sang-soo
Hong Sang-soo engata uma sequência de trabalhos impressionante há quase uma década, mas ainda assim The Woman Who Ran consegue ser um dos meus favoritos do cineasta sul-coreano graças ao refinamento do modo de operação. É uma história deveras simples — uma mulher visita três amigas diferentes em suas casas antes de passar por dois reencontros dolorosos — mas que consegue ser gigante sobretudo pela atenção da câmera aos detalhes mínimos que se manifestam diante de nossos olhos. É uma mão no colo rejeitada, uma demonstração discreta de carinho, uma conversa trocada a passos tortos. A ausência de uma bebedeira denota bem o tom de vulnerabilidade bem sutil do filme, que além de Kim Min-hee ainda conta com o que provavelmente é o melhor close da carreira de Hong.
Mas nada se compara a…
1. Joias Brutas, de Benny Safdie e Josh Safdie
Sei lá, o jeito que ele anda é diferente.
Me divirto com o pensamento de que o filme que melhor reproduz a angústia constante de se viver num ano como o de 2020 venha de 2019 e não tenha absolutamente nada a ver com qualquer assunto dos últimos meses. É raro o feito de Joias Brutas, e pra piorar é um difícil de se medir dado o nível de insanidade da narrativa: fé no impossível, vício, o caos de Nova York e o Diamond District, o mito de Sísifo no capitalismo tardio. Tudo passeia pela imagem de Howie Bling e a atuação mastodôntica de Adam Sandler, e os irmãos Safdie demonstram um controle absoluto sobre todo o ataque de ansiedade em movimento. É uma verdadeira evolução de forma e a consagração de dois nomes para lá de promissores.
Tem na Netflix. Escrevi sobre o filme no B9.